A gata da cafeteria

João Adolfo Guerreiro

A gata preta estava caminhando por entre as mesas,conferindo a sessão de autógrafos da escritora, intitulada Café Literário,organizada pelo clube do livro de mulheres. Os livros eram sobre o feminino e agata, embora não humana, é uma fêmea de sua espécie, logo, tinha todo o direitode estar ali, não é mesmo?

Cockie é o seu nome. Circulava graciosamente, com suafelinidade feminina e com um casaquinho. Estava frio, oras, é inverno e, mesmona cafeteria, há de se agasalhar, como as humanas presentes estavam. Aliás, umgrande Clube da Luluzinha consistia aquela sessão: apenas eu e um menino, com amãe, de homens. Gostei da escritora, Sandra Radin, comprei seus livros (Bancodos réus, entre eles, o mais recente) e curti as coisas que falou. Muitoshomens por aí, creio, dizem gostar de mulheres, mas ignoram as coisas douniverso feminino e não se interessam em conhecer, acompanhar, investigar.

Incoerência deles? Não, pois eles gostam, na verdade, sãodas fêmeas, não das mulheres. Mulher incomoda, fêmea dá prazer e prole, poresse tipo de visão. Uma mulher não nasce mulher, nasce fêmea e, depois,cria-se, torna-se mulher, como disse Simone de Beauvoir. É, portanto,construção, sobretudo, social. Um homem que não compreende isso e que não buscaentender o feminino, não gosta de mulher, gosta apenas de si e de seu prazer.

Alheia às minhas reflexões ao sorridente desenho deSylvester Stallone na parede, Cockie, coquete, esbanjava charme durante oevento. Se deixou fotografar apenas onde quis, ou seja, na escada, fazendopose, olhar blasé. "Humano macho inconveniente, não me incomode mais,tá?" Tá ok, Cockie, entendi. Valeu a gentileza. Ah, uma última coisa: vocêé muito gata. "Aff".

Uma boa semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, vivam efiquem com Deus.