A Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) deu início a uma série de demissões de trabalhadores que estavam na empresa antes da privatização. A decisão foi tomada pelo grupo Aegea, atual controlador da companhia, após o término do período de estabilidade de 18 meses acordado no momento da venda da estatal. O fim da estabilidade ocorreu em 7 de janeiro, conforme informações divulgadas pelo jornalista José Mauro Batista, do Paralelo 29.

O período de estabilidade foi uma das condições estabelecidas quando o grupo Aegea assumiu o controle da Corsan em julho de 2023, garantindo a manutenção dos postos de trabalho por um ano e meio. Com o término dessa garantia, começaram as demissões. O presidente do sindicato da categoria no Rio Grande do Sul, Arilson Wunch, confirmou as dispensas e relatou que a empresa já havia demitido sindicalistas e delegados sindicais.

— A Corsan começou a demitir hoje (terça-feira, 14). Tem diretor sindical demitido, tem delegado sindical demitido, e tem mais uma série de trabalhadores — disse Wunch.

Embora o sindicato não tenha obtido confirmação oficial do número exato de demissões, acredita-se que cerca de 250 funcionários de diferentes unidades do estado possam ser dispensados. Em junho de 2023, a Corsan ainda contava com aproximadamente 2.500 trabalhadores em seus quadros. Naquele momento, foi aprovado um acordo coletivo que, além de garantir a estabilidade no emprego, estabeleceu o prazo de 18 meses a contar da privatização da companhia.

Em relação à gestão do serviço, o grupo Aegea tem adotado uma política de maior transparência em relação aos problemas com o fornecimento de água, o que gerou um aumento nas notificações sobre falhas no abastecimento. Durante uma entrevista ao podcast Estação 29, no ano passado, o ex-gestor de Relações Institucionais da Corsan, João Corim, explicou que a transparência gerou maior visibilidade desses problemas, mas também destacou que a situação seria mais grave não fosse o auxílio de empresas terceirizadas, compostas em grande parte por ex-funcionários da Corsan.

Por sua vez, a assessoria de comunicação da Corsan/Aegea afirmou ao Paralelo 29 que as demissões são parte do processo comum de ajustes realizados pela empresa, que também tem promovido contratações. A empresa afirmou que, desde que assumiu a Corsan, modernizou processos, capacitou colaboradores e contratou mais de 2 mil pessoas para enfrentar os desafios impostos pela nova legislação do saneamento. Além disso, destacou que existem centenas de vagas abertas nas regionais da companhia.

A empresa enviou uma nota ao paralelo 29 dando a sua versão da situação:

NOTA DA CORSAN/AEGEA

“A Corsan esclarece que a redefinição do quadro de colaboradores é uma medida estratégica e natural dentro do processo de adequação ao novo modelo de gestão privada e de melhoria contínua do serviço à população.

Após 18 meses de estabilidade assegurada por acordo coletivo, período inédito em processos de privatização no país, iniciamos o movimento de ajustes necessários para garantir eficiência operacional e atender às metas de universalização do saneamento, previstas no Marco Legal do Setor, contribuindo de maneira decisiva para reduzir as desigualdades sociais, econômicas, educacionais e de saúde do povo gaúcho.

Já contratamos 2 mil novos profissionais para funções estratégicas, com foco em áreas técnicas e operacionais, e temos outras mil vagas em processo seletivo.

Além disso, os colaboradores integrados ao quadro da Corsan passaram por mais de 22 mil horas de treinamento, reforçando nosso compromisso com a qualificação na prestação de serviço à população.”

Também rm nota, Sindiágua lamenta demissões:

NOTA DO SINDIÁGUA

“O dia 14 de janeiro será sempre lembrado por muitos como o dia do ponto final de uma história. Sabemos que cada pessoa que está sendo desligada da Corsan/Aegea está sofrendo, e muito, com a perda do emprego.

Nossa entidade sempre primou por preservar, acima de tudo, os empregos de todos e todas, foi assim durante um processo de privatização que durou por mais de 2 anos e 4 meses, desde o anúncio oficial do governador Eduardo Leite até a efetiva assinatura do contrato entre o Estado e a empresa vencedora do leilão. Foram várias e árduas batalhas judiciais e políticas até a assinatura de entrega da Companhia. 

A partir daí nossa entidade, numa negociação extremamente difícil, conseguimos uma estabilidade considerada inédita tratando-se de privatizações no Brasil, de 18 meses de estabilidade e com a possibilidade de conversão em indenização, caso assim o empregado optasse, e percebemos que muitos optaram por esse caminho.

Porém, chegou o dia em que a estabilidade se finda, e tal qual acontece em todos os processos de privatização, a empresa vencedora do certame inicia aquilo que poderia ter sido iniciado logo após a privatização: o processo de desligamento.

Neste momento cabe-nos lamentar profundamente o acontecido e tentar buscar forças para enfrentar o momento delicado que estamos passando, sempre com a certeza absoluta de que todos os esforços possíveis, necessários e cabidos foram enviados para resguardar ao máximo a dignidade e manutenção dos trabalhadores e trabalhadoras. Ainda, estamos analisando todas as possibilidades jurídicas mediante o número elevado de desligamentos ocorridos de uma única vez.

Direção Sindiagua/RS”

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