Penélope descansa sobre a mesa, pegando um solzinho na tarde de inverno, sob o olhar cuidadoso de sua dona

João Adolfo Guerreiro

Penélope descansa sobre a mesa, pegando um solzinho na tarde de inverno, sob o olhar cuidadoso de sua dona. "Os cachorros podem aparecer" - informou, protetora e zelosa.

Contudo, a gata não parece preocupada. É uma gata de rua, acostumada com a luta pela sobrevivência, lida legal com os cachorros de rua. Afinal, está ali, na plena vigência de suas sete vidas, né? Circula ali por aquela parte do Centro, lidando também com bicicletas, motos, carros e caminhões. Os humanos que passam lhe são indiferentes, nem levanta o olhar na direção deles. Está segura, de boa e na boa. Come na cafeteria, onde tem seu potinho. Relação simbiótica, onde escolheu e foi acolhida. Assim são os gatos, que pensam que nós somos outros gatos. Os cachorros, por seu turno, pensam que são gente.

Gatos são bichos belos e breves, mas marcantes em nossas vidas. Já tive cachorro que viveu 18 anos, mas não gatos. Uma de minhas gatas, hoje (foto abaixo), já está com 12. Não é mais o que já foi, desacelerou um pouco, mas ainda se vira sozinha e caça. Passarinhos, ratos, cobras, tudo a Coruja traça. E ainda manda ver a ração, duas vezes ao dia. Coruja e Penélope não se conhecem, mas levam vidas um pouco parecidas, cada uma em sua acolhida, amadas e cuidadas.

Penélope, de tão aculturada aos humanos, interage com qualquer pessoa que por lá passe. Mia, conversando. É um dos seres do pedaço, parte daquela micro-fauna formada por humanos e bichos. Todos bichos, aliás, né? É uma gata de cafeteria, assim como Cookie, da qual falei essa semana. Gatas de cafeteria emprestam charme e graça a tais locais, pois felinos, em geral, são mui charmosos e graciosos, embora sejam ferozes predadores. Assim como nós, humanos, igualmente somos.

Gatos e humanos, em cafeterias, logo, possuem tudo a ver. Penélope confirma a regra.