Essa o vento não levou...
A dona Olívia é de uma família que, por aqui, a gente chama de “vivedeira”
A dona Olívia é de uma família que, por aqui, a gente chama de “vivedeira”: sua irmã, Joan, faleceu em 2013, aos 96 anos, enquanto ela, hoje, completa 103! Talvez o fato de terem as duas nascido no Japão contribua para isso, pois lá o pessoal vive muito também.
Entretanto, nem ela nem Joan Fontaine são japonesas, só nasceram lá. São filhas
de pais britânicos e cresceram nos Estados Unidos. Olivia mora, desde 1950, na
capital francesa. Até aqui vocês já perceberam que estou a falar de uma pessoa
cosmopolita, que deve ter muita grana. Verdade, mas, além do dinheiro, é uma mulher
famosa, ninguém menos que Olivia de Havilland, a única atriz da Época de Ouro
do cinema americano ainda viva e, o mais importante, o único membro protagonista
do elenco do grande clássico E o Vento Levou... (1939), filme que em dezembro
fará 80 anos de sua estreia, que ainda enche os pulmões com o oxigênio de nossa
atmosfera.
Olivia foi indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo papel da bondosa,
simpática, leal e virtuosa Melanie Hamilton Wilkes, mas não levou, pois este
foi para a colega de filme Hattie McDaniel, que interpretou a escrava Mammy,
empregada e ama da fogosa e temperamental Scarlett O’Hara (Vivien Leigh,
vencedora do Oscar de melhor atriz), a icônica personagem principal da trama. À
época, Olivia tinha 23 anos e já era uma atriz com cartaz em Hollywood devido a
sua parceria em oito filmes com o galã Errol Flynn, principalmente em As
Aventuras de Hobin Hood (1938). E, embora tenha ganho dois oscars de melhor
atriz em sua carreira (1947 e 1950), foi mesmo por sua participação em E o
Vento Levou... que ficou eternizada na memória e imaginário popular dos
cinéfilos.
De todo o elenco, além dela, apenas seus “filhos” no filme ainda igualmente inalam
o ar deste mundo: Mickey Kuhn, com cincos anos no período das filmagens, e o
bebê Greg Giese, ambos intérpretes de Beau Wilkes, filho de Melanie (só para
constar: pronuncia-se mélani). Os outros atores principais, há muito, já se
foram com o vento, nenhum passando dos sessenta: Vivien faleceu em 1967, aos 53
anos; Hattie em 1952, aos 57; Clark Gable, o capitão Rhett Butler – marido de
Scarlett, em 1960, aos 59; e Leslie Howard, Ashley Wilkes - marido de Melanie,
em 1943, aos 50.
Além de ser uma artista com enorme reconhecimento de público e de crítica,
Havilland não é respeitada no seu meio profissional apenas pelo sucesso e
talento, mas também por ser uma atriz que enfrentou o poder dos grandes
estúdios, o que gerou dividendos trabalhistas para seus colegas. Numa ação
judicial em que contestou o modelo de contrato que tirava toda a autonomia dos
atores sobre sua carreira, ganhou a causa e a jurisprudência
gerada pela sentença passou a ser conhecida como Lei Havilland, que hoje ainda
rende frutos: o cantor e ator Jared Leto se valeu da lei Havilland em disputa
judicial com sua gravadora. O roqueiro, inclusive, ligou para a atriz, em
reconhecimento.
Hoje, em seu apartamento em Paris, Olivia, se puder, com certeza abrirá a
janela e sentirá o vento passar pelo seu rosto e fazer revoar seus cabelos de
prata, outrora negros. Viva e lúcida, ela pode se dar a esse desfrute. O vento
que siga o seu curso e que espere, que ela é de família vivedeira, ora pois.
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