JOÃO ADOLFO GUERREIRO | Quem aí ainda recorda do Gato Félix?
É dos mais antigos, do mesmo ano que Olívia Palito
Eu digo que recordo dele dos gibis, lá na distante década de 1970, do que pela TV. Daquele tempo, dos desenhos animados, lembro de outros dois gatos, o Frajola e o Tom, que eram coadjuvantes malvados do Piu-Piu e do Jerry, o passarinho e o ratinho bonzinhos das histórias. Já o Gato Felix possuía carreira solo e era o gente boa do pedaço. Todavia, a história dele, muito anterior a dos dois outros (1945 e 1940, respectivamente), inicia lá na década de 1910, ainda no tempo do cinema mudo...
É controverso o titulo de criador do Gato Félix, paternidade disputada por Pat
Sullivan (1887 - 1933) e Otto Messmer (1892 - 1983). O último, desenhista,
trabalhava para o estúdio de Pat e reivindicou a autoria, embora o patrão, por
sua vez, afirmasse, até o final de sua vida, o contrário. Bom, o fato é que em
9 de novembro de 1919, há cem anos, a personagem vinha ao mundo com o nome de
Mestre Tom na animação sem som Feline Follies (assista-a via o link ao final
deste texto), produzida pelo estúdio de Sullivan, enquanto Messner levou o
bichano para as tiras de jornais e para os quadrinhos, de 1923 a 1955.
Félix foi a primeira personagem animada a competir em popularidade com os
atores da época, e seus desenhos concorriam de igual para igual com a
bilheteria dos filmes de sucesso do período. Ele é dos mais antigos, do mesmo
ano que Olívia Palito (*1) e uma década anterior a outros como Popeye (1929) e
Betty Boop (1930), lembrando que a maioria dos heróis de quadrinhos que vemos
hoje repaginados nos cinemas são oriundos das décadas de 1930 e 40. Mais antigo
(*2) que ele é Yelow Kid, de Richard Outcalt (1863 - 1928), que introduziu a
personagem como tirinha de jornal em 1897 com o então inovador "balão das
falas".
Com o surgimento do cinema falado, em 1928, o enorme sucesso de Gato Félix
arrefece e declina, devido tanto a posição inicial de Sullivan em não incluir
som em seus desenhos quanto ao surgimento de animações sonoras, como Mickey
Mouse, de Walt Disney (1901 - 1966), naquele mesmo ano. Curiosamente, em 1928 o
gato entraria para a história como a primeira imagem transmitida pela nascente
televisão. Somente a partir de outubro de 1958 retomou seu prestígio pelas mãos
do desenhista Joe Oriolo (1913 - 1985), criador do Fantasma Gasparzinho (1939),
que trabalhou como assistente de Messmer. Fez novas aventuras com som para a TV
e atualizou o desenho do Gato Felix, criando também assessórios (a bolsa
mágica) e parceiros, além de amenizar sua personalidade visando atingir o
público infantil.
A partir de então Félix apareceu na TV americana em três séries, a última delas
denominada The Twisted Tales of Felix The Cat, entre os anos de 1995 e 1997. Em
1988 é lançado o filme Felix The Cat: The Movie e, por último, um vídeo em
2004, Felix The Cat: Saves Christmas, voltado para o público japonês. Desde
2014 é propriedade dos estúdos cinematográficos Dreamworks e, embora não haja,
ainda, previsão de novo filme, sua marca continua a ser licenciada e
comercializada numa ampla variedade de produtos, de roupas a brinquedos.
No Brasil, apareceu em 1928 no livro O Gato Félix, de Monteiro Lobato, onde um
impostor se passava pelo famoso bichano e, em 1929, chamado de Miau Miau, na
revista Mundo Infantil. Na televisão, surgiu por aqui em 1965 transmitido pela
TV Tupi, passando pela paulista TV Gazeta e chegando até a Globo, onde foi
exibido até a década de 1980. Na década de 1990 reaparede na TV Record, sendo
programado também nos canais Rede Brasil, Cartoon Network e Boomerang. No mundo
das histórias em quadrinhos nacionais, foi editado pela La Selva, de 1956 a
1965 (série Seleções Juvenis), RGE, de 1965 a 1968 (série Gibi Apresenta),
Trieste (1972, 1973) e Bloch (1975). Em 2006 a Opera Graphica lançou uma edição
especial.
Uau syl! Embora o Gato Felix esteja fora das telas, dos jornais e dos
quadrinhos nos ultimos tempos, não é toda criação artística de cunho ppopular
que chega aos 100 anos ainda com possibilidade de interromper a aposentadoria e
voltar a ativa. Seja Sullivan ou Messmer o pai do felino, eles nunca esperaram,
com certeza, que suas sete vidas durariam tanto no mundo do entretenimento. Eis
o grande pulo do Gato Félix.
Você aí, ainda lembrava dele?
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(*1) - A igualmente centenária Olívia Palito, antes de ser atualmente
conhecida como a namorada do marinheiro Popeye, coadjuvante em seus desenhos,
foi por dez anos a personagem principal de sua própria história em quadrinhos.
(*2) - Há quem estabeleça a data de 17 de maio de 1890 como o marco
inicial das histórias em quadrinhos, pois nesse dia foi lançada por Alfred
Harmsworth (1865 - 1922) a revista Cult Comics que, embora possuísse mais
textos, apresentava narrativas desenhadas, obtendo enorme sucesso. Entretanto,
existe também os que mencionam Nhô Quim, criado em 1869 pelo ítalo-brasileiro
Angelo Agostini (1843 - 1910) para o jornal Vida Fluminense.
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